Psicologia no Brasil e no Pará
Os estudos de Antunes (2001) e Massini (1990) revelaram que a produção de conhecimento pertinente a área da Psicologia iniciou-se no Brasil logo após o descobrimento, precisamente no período inicial de colonização.

Fig. 16 Brasil-colônia
Por conta disso, Antunes (2001) divide a produção do conhecimento psicológico no Brasil em dois períodos: Pensamento psicológico e Psicologia Cientifica. É possível ainda, subdividir estes períodos em dois (ver diagrama a seguir).
Diagrama 1– Divisão dos períodos da Psicologia Brasileira.

No período pré-institucional (1500 -1808), destaca-se estudos, análises e discussões sobre formas de atuação sobre os chamados fatos psíquicos. Os autores eram na sua maioria brasileiros, formados em universidades européias, com função religiosa ou política na Colônia. As obras eram editadas na Europa. Os temas estudados neste período eram:
• emoções e sua cura (Padre Vieira);
• formação da personalidade (Alexandre de Gusmão), com ênfase no processo educativo;
• relação homem-trabalho, adaptação ao ambiente e formação do caráter brasileiro (Padre Vieira e Mello Franco); e
• loucura e sexualidade (Mello Franco).
Após a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil (1808), inicia-se o período onde o conhecimento psicológico foi produzido vinculado a dois tipos de instituições: educacionais e médicas.
A produção vinculada às instituições educacionais se ambientou nas primeiras escolas normais brasileiras, foi realizada principalmente por teólogos, professores e médicos, na sua maioria composta por obras de cunho filosófico, que tinham como preocupação fundamental o desenvolvimento das faculdades psíquicas da criança, em especial a inteligência. Os temas estudados foram:
• fundamento da vida psíquica (alma, eu, consciência);
• fenômenos psíquicos (percepção, emoção, cognição); e
• aplicação deste conhecimento acima da elaboração de métodos de ensino eficazes.
A produção vinculada às instituições médicas se desenvolveu principalmente por meio da teses de doutoramento (espécie de trabalho de conclusão de curso) das faculdades de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia. As áreas de interesse eram a Medicina Legal e a Medicina Social. Dentro delas destacam-se os estudos sobre:
• emoções;
• loucura (diagnóstico e tratamento de alucinações mentais, ações preventivas);
• epilepsia e crime;
• sexualidade (prostituição, ninfomania); e
• higiene escolar.
No período pré-reconhecimento da profissão (1890 – 1962) foi se desenhando progressivamente o perfil do psicólogo como um profissional diferenciado do médico e do pedagogo. Este reconhecimento da especificidade da atuação do psicólogo foi se desenvolvendo dentro do seio das mesmas instituições em que a Psicologia era construída e aplicada desde o período anterior (educacionais e médicas), e se estendeu para outra nova, ligadas as primeiras mais voltadas para a seleção e orientação profissional. Alguns fatos merecem destaque:
• Criação de laboratórios de Psicologia nos Hospícios e Asilos, a exemplo do Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro (1923) com seus estudos e aplicações na seleção e orientação profissional em psicoterapia, espaço de formação de psicólogos brasileiros.
• Criação de gabinetes de psicologia e das “Jornadas Brasileiras de Psicologia” pelas Ligas de Higiene Mental.
• A valorização do conhecimento dos aspectos psicológicos envolvidos no crime e delinqüência por Nina Rodrigues.
• A criação do Pedagogium (1890) onde foi fundado o primeiro laboratório de Psicologia do Brasil, com registros claros de estudos sobre a dinâmica do pensamento humano (Manoel Bonfim).
• A aplicação do conhecimento e técnicas psicológicas à seleção e orientação profissional no Instituto de Psicologia de Pernambuco, posteriormente transformado em Instituto de Seleção e Orientação Profissional – o ISOP (Ulysses Pernambucano).
• Os cursos promovidos juntamente com psicólogos estrangeiros para a formação docente na Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Belo Horizonte, onde foi criada uma classe para crianças com deficiência mental, germe da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (Helena Antipoff).
• O Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo onde se aplicou pela primeira vez a Psicologia ao trabalho no Brasil (Roberto Mangé).
Após a efervescência do período anterior, incrementou-se a demanda por profissionais psicólogos no Brasil. Em conseqüência disso, surgem os primeiros cursos universitários de formação no Brasil, em Minas Gerais, Brasília e São Paulo no final da década de 50 e início da década da 60. Em 27 de agosto de 1962 foi publicado o Decreto Lei 4119, que reconhecia e regulamentava a profissão no Brasil.

Para se apropriar de detalhes desta trajetória leia:
ANTUNES, M. A. M. A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: UNIMARCO / EDUC, 2001.

Além de consultar o site oficial do Conselho Federal de Psicologia, onde estão disponíveis as primeiras resoluções que regulamentam a ação e formação profissional no Brasil:
http://www.pol.org.br
No Estado do Pará, Bordin (1983, p. 1) afirma que a Psicologia pode ser dividida em dois períodos:
o primeiro, que precede a instalação dos cursos superiores de Psicologia (Bacharelado, Licenciatura e Formação de Psicólogo) e o segundo período subseqüente no qual a marca da existência desse profissional torna-se significativa na região.
Os pioneiros na criação do curso de Psicologia no Pará, especificamente em Belém foram os professores: Ivo Freitas, Samuel Sá e Artêmio Ferreira, que estabeleceram contatos com a UnB e a USP com vista a compor o projeto pedagógico do curso. O curso passou a funcionar em 1974 com 60 alunos na UFPa e foi reconhecido em 1979 (Decreto 1219). Em 1980, passou a funcionar o curso de Psicologia das Faculdades Integradas do Colégio Moderno (FICOM), uma das instituições que deram origem a UNESP, atual UNAMA.
A expansão e a atuação dos profissionais de Psicologia vem se consolidando ao longo dos anos em diferentes áreas de atuação, algumas das quais você conheceu durante a realização da Atividade 1.2 (unidade 1). Hoje contamos com cursos de pós-graduação específicos em Psicologia funcionando na UEPA e na UFPa.

Para conhecer mais detalhes sobre a história da Psicologia no Pará, sugerimos a leitura de:
MONTEIRO, J. B.; FEITOSA, E. S. A inserção e trajetória do psicólogo na instituição hospitalar psiquiátrica no Estado do Pará: a busca de uma identidade. Belém: SPEP, 2000.
Síntese da Unidade
A criação da Psicologia Científica é uma obra assinada por vários autores, alguns que conhecemos na unidade anterior (os filósofos) e outras que conhecemos agora (os fisiólogos). Estes últimos, fundamentais na construção de instrumentos e estratégias para investigar experimentalmente (como pedia a época – Positivismo) os fenômenos mentais, em especial a percepção humana. Wundt o primeiro psicólogo, por sinal fisiólogo de formação, segue a trilha dessa Psicologia Fisiológica no laboratório de Leipzig. Esta Psicologia Fisiológica significou apenas a primeira proposta de se fazer Psicologia Científica.
Logo a Psicologia atravessou o Atlântico e nos E.U.A conheceu outras propostas: a de Titchener (a Psicologia Estrutural) com suas investigações sobre a consciência com método, objetivos e concepções sobre a mente muito diferentes de Wundt; a de James, Dewey, Angell, Carr e Woodworth (a Psicologia Funcional) com o fim do monismo metodológico, com ampliação de interesse, campos e sujeitos de investigação sob a influência darwinista; a de Watson (o Behaviorismo) com o forte propósito de banir a mente e a consciência do campo de investigações psicológicas, buscando o estudo objetivo de comportamento, para ele explicável apenas pela relação S-R; a de C. R. Rogers (a Abordagem Centrada na Pessoa) que fez o caminho contrário, iniciou-se na área de aplicação e posteriormente voltou-se para a construção da teoria científica. Na própria Alemanha, a Psicologia Científica de Wundt conheceria oposições, a mais forte dela feita pela Psicologia da Gestalt de Wertheimer, Koffka e Köhler, com sua proposta holística de explicação da percepção, aprendizagem e criatividade em homens e animais.
Somando-se a esta intensa movimentação dos primeiros anos da Psicologia Científica surge S. Freud que com suas investigações sobre a doença mental culminam com a proposição da Psicanálise, ao mesmo tempo, sistema explicativo de funcionamento psíquico e método de intervenção clínica, que foi fundamental para a ampliação das investigações psicológicas a um campo ainda inexplorado: o inconsciente.
Esta Psicologia estudada por nós nesta unidade atravessou a história de vários países, no Brasil veio sendo construída desde os tempo do Brasil-Colônia, época em que se podia falar em conhecimento científico em Psicologia e atravessando diferentes épocas da nossa história veio a se constituir como uma área do conhecimento necessária e diferenciada no período de 1890 a 1962, quando a demanda pelos serviços psicológicos gerou o reconhecimento da profissão (Decreto Lei 4119/ 27 de agosto) e a criação dos primeiros cursos de formação.
Nesta unidade, você também conheceu um pouco da chegada da Psicologia no Pará, pela via de profissionais formados em outros estados e pela fundação de seus dois cursos superiores na UFPa (1974) e na FICOM atual UNAMA (1980).
REFERÊNCIAS
ANTUNES, M. A. M. A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: UNIMARCO / EDUC, 2001.
BARRETO, C. L. B. T. A evolução da terapia centrada no cliente. In: GOBBI, S. L.; MISSEL, S. T. Abordagens centrada na pessoa: vocabulário e noções básicas. Tubarão: UNISUL, 1998. p. 167- 183.
BORDIN, F. M. História da Psicologia no Pará. Belém: mimeo, 1983 (ensaio).
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MONTEIRO, J. B.; FEITOSA, E. S. A inserção e trajetória do psicólogo na instituição hospitalar psiquiátrica no Estado do Pará: a busca de uma identidade. Belém: SPEP, 2000.
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